Curta-metragem “Amazônia Xamã” mistura ficção científica e resistência indígena em um futuro distópico da Amazônia

"Amazônia Xamã" destaca a resistência indígena em um futuro distópico, promovendo a representatividade e a luta pela preservação da floresta

O cinema amapaense e amazônico ganha um novo fôlego com Amazônia Xamã, curta-metragem em pré-produção que une ficção científica e a luta indígena pela sobrevivência. Com roteiro, direção e direção de arte de Rodrigo Pedroza, o filme traz como protagonista Diogo Karipuna, liderança do povo Karipuna, reforçando o protagonismo indígena no audiovisual. Produzido pelas companhias Cia Viva e Kachupada, o projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo e conta com a produção executiva de Paiodhy Rodrigues.

A narrativa se passa em um futuro distópico onde a floresta é ameaçada pelos Garimadils, máquinas robóticas programadas para extrair recursos naturais a qualquer custo. Em meio a esse cenário, Raoni, interpretado por Diogo Karipuna, se torna a última resistência contra a destruição da Amazônia. Com um arco e flecha modernizado, ele enfrenta um exército de autômatos em uma batalha que ressoa os conflitos reais enfrentados pelos povos indígenas hoje.

O protagonismo indígena além da tela

A participação de Diogo Karipuna não é apenas um marco para a representatividade indígena no cinema, mas também uma extensão de sua luta cotidiana. Para o ator e liderança, o curta traz uma visibilidade inédita aos povos originários, muitas vezes retratados de forma estereotipada na mídia.

“Normalmente, em novelas e filmes, os indígenas aparecem como aliados descartáveis, que na maioria das vezes são mortos. Esse protagonismo é importante para mostrar o que realmente estamos fazendo, como podemos contribuir com nosso conhecimento para mudanças globais”, afirma o Karipuna.

A preparação para viver Raoni envolveu um mergulho profundo em experiências já vividas. “Como liderança, eu já enfrento diariamente ameaças, seja de políticos, da polícia ou de invasores dentro do nosso território. Então, dar vida ao personagem foi menos sobre interpretar e mais sobre reviver o que já conheço. Trabalhei muito o meu emocional para trazer a intensidade necessária para a história”, completa.

Um Brasil reimaginado: o enredo e suas inspirações

O roteirista Rodrigo Pedroza explica que a ideia do filme surgiu em um momento crítico da política brasileira, quando as queimadas e invasões de terras indígenas atingiam números recordes. “Queria falar desse futuro distópico, que não está tão distante da nossa realidade. O filme critica o eurocentrismo e propõe um Brasil reimaginado, onde as culturas indígenas e negras possam coexistir sem imposições externas”, pontua.

Ao final da trama, Amazônia Xamã subverte a história oficial do país, levando os personagens a um Brasil pré-colonial, antes da chegada dos europeus. “É como se tivéssemos a chance de reconstruir o país sem a violência estrutural imposta às minorias”, explica Pedroza.

Estética: o encontro entre tecnologia e tradição

Visualmente, Amazônia Xamã aposta em um universo híbrido, combinando elementos tradicionais indígenas com um futurismo distópico. A direção de arte e os figurinos foram pensados para destacar essa fusão entre o ancestral e o tecnológico.

“A ideia era criar um figurino que misturasse a tecnologia indígena milenar – como a caça e os trajes tradicionais – com a robótica e o maquinário dos Garimadils. Não queríamos copiar Hollywood, mas sim construir um visual único, baseado nas nossas próprias referências”, diz Pedroza, que também assina a direção de arte.

Apoio e o fortalecimento do cinema amapaense

Contemplado pela Lei Paulo Gustavo pela secretaria de cultura – Secult AP, Amazônia Xamã faz parte do movimento de retomada do cinema brasileiro. “O setor público sempre foi fundamental para o audiovisual, e essa lei veio em um momento crucial, após anos de desmonte da cultura. O Governo do Amapá possibilitou que diversos projetos competissem de forma democrática, fortalecendo a produção local”, destaca Pedroza.

Com um elenco formado por talentos locais, incluindo Lu Karipuna, Marina Brito, Diulen Reis, Lucas Souza, Valdez, Roberto, Romário Feler e a própria produtora Paiodhy Rodrigues, o filme se prepara para dar um passo importante na representatividade indígena no cinema.

Em meio à destruição iminente, Raoni resiste. E, com ele, a Amazônia. A batalha pela floresta está prestes a começar – e desta vez, a história pode ter um desfecho diferente.

Texto e fotos: Produtora Cia Viva e Produtora Kachupada

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